Inicio / Espaço Saúde / A escuta da Psicossomática Psicanalítica
Ana Elisa Alves
Psicóloga – CRP 12/16335
Durante a vida nos deparamos com inúmeros desafios, em geral conseguimos lidar com eles. Porém certas situações nos desestabilizam, entristecem, tiram o sono e geram ansiedades. Outras vezes, após longa peregrinação por vários especialistas, somos surpreendidos por um diagnóstico de doença psicossomática, que revela um aspecto emocional envolvido e não conhecido.
Em ambos os casos é indicada a psicoterapia, um processo que tem como objetivo auxiliar o paciente a lidar e elaborar conflitos, situações e dores com as quais sente dificuldades ou não consegue lidar. A psicoterapia visa não só aliviar o sofrimento, mas também possibilitar uma ampliação dos recursos psíquicos para que o paciente desenvolva uma maior autonomia, melhora da autoimagem e confiança, de forma a ter uma vivência mais integrada e satisfatória.
O psicólogo, a partir da escuta, observação e avaliação faz a mediação que propicia o encontro do sujeito consigo mesmo. Ele acolhe o sofrimento e ajuda o paciente a compreender as origens das dificuldades, das dores, promovendo alívio, possibilitando reflexões, ampliando o autoconhecimento e cuidando do sofrimento psíquico gerado pela história de cada um.
Existem diferentes modelos teóricos que vão embasar o trabalho do profissional psicólogo, mas neste texto vamos tratar da Psicossomática Psicanalítica, que foi desenvolvida em Paris, nos anos 70, a partir dos trabalhos de Pierre Marty e outros autores. Esta teoria considera que somos seres psicossomáticos, não há uma separação entre o corpo e a mente, como em geral as pessoas acreditam, o indivíduo faz parte de um todo, que pode ser compreendido em sua totalidade psicossomática, ou seja, com sentimentos, emoções e pensamentos, numa concepção histórica, biológica, social e cultural.
Determinados acontecimentos, ou situações da vida pela sua intensidade e força não conseguimos assimilar, gerando um excesso de excitações que ficam soltas e que não são possíveis de serem nomeadas, simbolizadas ou sonhadas. Esses excessos podem gerar transtornos como doenças, ataques de pânico, distúrbios alimentares, adição por álcool, drogas, compras, etc. Nestes casos o psicoterapeuta pode ajudar o paciente a produzir um sentido para o que acontece em seu corpo e também auxiliar a acalmar as excitações corporais e que não encontram um sentido psíquico.
A Psicossomática Psicanalítica oferece recursos para compreender aquilo que não está e não é possível ser representado pela palavra, associações ou sonhos, dessa forma, ela proporciona ao psicoterapeuta um olhar e uma escuta sobre o adoecer, partindo do pressuposto de que o adoecimento é um fenômeno mais complexo do que, em geral observamos, convidando o paciente a refletir sobre a relação que estabelece entre mente e corpo e sua saúde de forma mais ampliada e integrada.
O trabalho de psicoterapia acontece com encontros semanais, atendimento face a face, escuta empática e criação de um bom vínculo entre o paciente e o profissional psicólogo. Esse novo vínculo, profissional, diferente dos outros experimentados pelo paciente propicia um ambiente favorável à revelação do mundo interno onde o paciente pode esclarecer e transformar vínculos que não deram certo, possibilitando novas experiências e descobrindo o processo singular de cada um.
MARTY P., A Psicossomática do Adulto. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
VOLICH R.M, Ferraz F.C.. e Arantes M. A.A.C (org.) Psicossomática II – Psicossomática Psicanalítica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007.
VOLICH R.M, Psicossomática de Hipócrates à psicanálise. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010.