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EXERCÍCIO FÍSICO NA GRAVIDEZ E TREINAMENTO FUNCIONAL: POR QUE FAZ A DIFERENÇA?
Yuri Cordeiro Szeremeta
Educador Físico – CREF 01 5735-G
O treinamento funcional pode ser realizado em qualquer fase da vida adulta e, atualmente, é uma das melhores maneiras de conseguir músculos definidos, equilíbrio, ganho de força, alívio das dores do corpo, formação e manutenção de saúde. E está, inclusive, indicado durante a gravidez.
“Muitos podem ficar surpresos ao ver uma gestante treinando com bolas, fitas de suspensão e pesos (como podemos ver nas fotos), mas alguém lembra que movimentos semelhantes são realizados diariamente, numa vida normal? Ir ao supermercado e carregar as sacolas de compras, se abaixar para pegar um objeto que caiu, se esticar para alcançar uma roupa ou para se vestir e etc. Tudo isto é trabalhado durante os treinamentos ditos “funcionais”, para que as pessoas possam fazer suas atividades diárias sem sentir desconforto ou impossibilidade para realizá-las, explica Yuri Cordeiro Szeremeta, formado em Educação Física e pós-graduando em Reabilitação de Doenças e Lesões Musculoesqueléticas.
O exercício físico durante a gestação foi, por muito tempo, evitado por se pensar que faria algum mal à saúde da mãe e do bebê. Hoje não se discute mais sobre os benefícios dos exercícios físicos durante a gravidez. Tanto a Sociedade Americana quanto a Europeia de Obstetrícia e Ginecologia possuem diretrizes bem definidas (e seguidas mundo afora) onde recomendam e estimulam o exercício físico durante a gravidez, desde que não exista nenhuma contraindicação para a sua prática.
Mesmo assim, existem futuras mães receosas em começar a fazer exercícios físicos, pois poderiam “prejudicar sua saúde e a do bebê”. Yuri Cordeiro nos explica que antes de iniciar qualquer tipo de exercício físico, a gestante deve ter uma carta de autorização do seu médico obstetra que está acompanhando o pré-natal. “É claro, existem situações em que a gestante tem contraindicações para realizar exercícios aeróbicos, como no caso da gravidez gemelar com risco de parto prematuro, sangramentos persistentes, pressão alta descontrolada, entre outros. Porém, para aquelas gestantes que estão tendo uma gravidez sem intercorrências, o treinamento funcional procura trazer vários benefícios para ela própria e para o seu bebê”.
E COMO PODE SER DEFINIDO O TREINAMENTO FUNCIONAL?
Tarefas simples do cotidiano como carregar sacolas de supermercado e colocá-las no carro ou ter que se abaixar para pegar algo mais pesado, tudo isto funciona como “levantamento de pesos”. Então, por que não treinar o seu corpo para poder realizar tarefas rotineiras de uma maneira mais segura e com menos esforço? Isto é Treinamento Funcional!
O treinamento funcional, conhecendo a fisiologia da gravidez e a biomecânica dos movimentos, é uma ótima ferramenta para fortalecer musculaturas que mais vão ser usadas para realizar determinadas atividades ou movimentos. No caso das gestantes, o eixo corporal se altera com o passar dos meses e, consequentemente, a coluna e os membros têm que se ajustar para buscar o equilíbrio, caminhar e se manter numa posição confortável durante o dia, e a noite se torna uma tarefa cada vez mais difícil. E estes ajustes geram dores. Ao se fortalecer determinados músculos (com a carga adequada para cada período da gravidez), os mais simples afazeres do dia a dia se tornam mais fáceis de serem realizados.
“Com o progresso da gravidez, as atividades e intensidades dos exercícios na fita de suspensão, nas bolas e com os pesos, são modificadas conforme a nova necessidade e o objetivo do período”, enfatiza Yuri.
As famosas dores nas costas são provocadas pela alteração da postura em função do crescimento do bebê. Através de exercícios adequados, podem-se trabalhar musculaturas paravertebrais e abdominais e, como consequência, ocorre um alívio no local que vem sofrendo uma sobrecarga de peso, com isso, os músculos das costas se tornam mais fortes e, assim, ocorre uma melhora da postura. As fitas de suspensão fazem um ótimo trabalho, pois o peso do próprio corpo se encarrega de trabalhar a musculatura. “O inchaço das pernas e pés também são uma queixa bem comum e pode ser diminuído através de exercícios físicos adequados, aumentando a circulação sanguínea e o bombeamento das válvulas venosas”, orienta o educador físico.
ADAPTAÇÕES DO ORGANISMO MATERNO DURANTE A GESTAÇÃO
- adaptações musculoesqueléticas: o aumento progressivo do peso pode forçar as articulações, principalmente dos joelhos e quadril. Além disto, o peso extra muda o centro de gravidade, puxando para frente e fazendo a coluna ficar mais arqueada (hiperlordose lombar) o que pode alterar o balanço e a coordenação motora da gestante e causar aquela típica dor nas costas.
- adaptações respiratórias: o útero em crescimento vai causando uma certa pressão no músculo do diafragma (que está envolvido na respiração) e isto acaba ocasionando uma certa falta de ar ao fazer algum tipo de atividade mais dinâmica.
- adaptações cardiovasculares: a gravidez causa um aumento da frequência cardíaca e do volume de sangue que circula pelo corpo materno, bem como certa dilatação dos vasos sanguíneos fazendo a pressão arterial ficar alterada principalmente após o primeiro trimestre. É importante evitar mudanças bruscas de posição, como passar da posição sentada para em pé e vice-versa.
BENEFÍCIOS DO EXERCÍCIO DURANTE A GESTAÇÃO
Os benefícios maternos são tanto físicos quanto psicológicos e emocionais. O exercício físico pode ajudar no manejo de alguns sintomas da gravidez e fazer a gestante se sentir melhor, sabendo que está fazendo algo de bom para ela e para o seu bebê. Estudos mostram que queixas comuns durante a gestação, tais como fadiga (cansaço), “veias saltadas” e inchaço das extremidades, tendem a diminuir com a prática de exercícios. Além disto, as gestantes conseguem uma melhora no sono, diminuir a ansiedade e ter um ganho de peso mais controlado, diminuindo, assim, chances de desenvolver diabetes mellitus gestacional. A circulação de sangue fica mais ativa e a distribuição de oxigênio se torna mais eficaz para mãe e bebê.
Yuri Cordeiro comenta que outro grande benefício que se observa nas mulheres que começam com a atividade programada durante a gestação (e se sentem bem e felizes) é que continuam no período pós-parto e tornam o benefício prolongado, inclusive retornando ao peso pré gravidez com mais facilidade. Tem se demonstrado, inclusive, que o impacto do exercício físico no pós-parto é grande no que se refere à diminuição da depressão neste período.
Yuri Cordeiro finaliza com um recado importante: “Antes de iniciar qualquer tipo de exercício físico, pergunte ao seu obstetra se existe alguma contraindicação. Caso contrário, comece a se exercitar sob orientação, sempre fique atenta a algum sinal ou sintoma que possa ocorrer durante o exercício e que seja motivo de suspender a atividade. Mantenha o hábito de informar os profissionais que a acompanham sobre sua saúde. Bons treinos!”
Matéria publicada no Jornal Santa Mônica – edição 52, dezembro de 2013.